Político faleceu em 2018 enquanto lutava contra um câncer

JOSÉ ELIAS DE ARAÚJO recebeu uma reclamação de que um dos seus filhos (ainda crianças) tinha feito traquinagens nas proximidades da sua casa. O velho olhou para Helena Neres e disse: “Helena, isso vai ser ‘Lourivá’ porque “José” não foi”. JOSÉ ELIAS DE ARAÚJO o escolheu para ser JOSÉ ELIAS FILHO. A casa então passou a ter o “José Elias Velho” e o “José Elias Novo”.
O Sítio Poço da Lama foi o berço de Zé Elias. Em 1952, seu pai resolveu deixar a zona rural para morar no Centro da antiga vila prestes a se tornar cidade: Santa Cruz do Capibaribe. O pequeno Zé Elias viveu toda sua infância pelas nossas ruas, em especial na Av. Padre Zuzinha.
Ainda jovem, junto com outros irmãos, ajudava o pai a vender cereais pelas cidades vizinhas. Quando se tornou adulto, ele mesmo colocou seu comércio. Ainda moço, no distrito de Poço Fundo, uma moça morena e bonita da família Siqueira encantou seu coração e em 1973 ele se casou com a jovem Nailde.
Logo que se casou, abriu uma “venda” de cereais na Rua da Fábrica, no bairro São Cristóvão. Como comerciante, foi crescendo em nossa cidade e ficando muito conhecido. Na Rua do Pátio, por trás da antiga Musa, ele vendia farinha, fubá, feijão… e foi desenvolvendo seu comércio tornando-se logo um conhecido comerciante.
O “Zé Elias Velho” sentia muito orgulho dos filhos, mas tinha uma admiração especial pelo “Zé Elias Novo”. O “Novo” cuidava muito bem do “Velho”. Certa vez, na sala de sua casa, onde havia muita gente, um cidadão perguntou ao “Velho” o que achava do seu filho Zé Elias. Todos ficaram curiosos para ouvir o que o velho, já idoso, com o rosto cheio de rugas e os cabelos brancos iria dizer sobre o filho. O “Velho Zé Elias” (pai), numa cadeira de balanço, parou o “balanço”, encostou os pés no chão, inclinou o rosto em direção ao teto e com o olhar sereno disse: “Zé Elias não é mais meu filho!” Todos ficaram assustados, inclusive o próprio filho Zé Elias que também estava presente, mas o “Velho”, com os olhos avermelhados, apontando para o filho Zé Elias, complementou: “Esse menino agora é meu pai”.

O comerciante Zé Elias não era apenas querido pela família e pelos amigos, ficou muito querido pelo povo que naturalmente teve seu nome ventilado na política. Em 1992 seria o candidato a vice prefeito de Salete Jordão, mas não chegou a se candidatar. Mas em 1996 seu nome foi aclamado como vice prefeito de Ernando Silvestre e sua chapa foi vitoriosa. Em 2000, foi candidato a vice pela mesma chapa, mas não obteve vitória.
Em 2002, conta-se que um famoso político de outra cidade veio a Santa Cruz participar de um evento e durante uma discussão expulsou Zé Elias do seu partido político. O poderoso político ergueu a voz e disse a Zé Elias: “Tome seu rumo!” O baixinho dos cereais se levantou, puxou o cós da calça, olhou para os lados, fixou o olhar com seus óculos de “fundo de garrafa” que ampliavam o tamanho dos seus olhos e serenamente respondeu: “Tem nada não, eu só tem meu voto!” Todos ficaram “mudos” e um clima tenso tomou conta do ambiente. Sem levantar a voz, com tranquilidade, com uma frase, Zé Elias calou todo mundo…
Em 2004 foi recepcionado no partido a que fazia oposição. Foi o candidato a vice prefeito de José Augusto Maia e sua chapa saiu vitoriosa. Em 2008, como já tinha sido candidato a vice por três vezes (1996, 2000 e 2004), a chapa encabeçada por Antônio Figueiroa, o Toinho do Pará, teria outro vice diferente, mas na convenção, o apresentador chamou o candidato a vice e todos viram se levantar da cadeira um baixinho com os olhos aumentados devido ao grau dos óculos, mas com um coração tão grande que não cabia no peito. Todos viram, pela quarta vez, José Elias Filho apontar como candidato a vice prefeito e vencer as eleições de novo.
Sua façanha nunca será superada: candidato a vice prefeito por quatro vezes consecutivas (1996, 2000, 2004 e 2008), com três candidatos a prefeito diferentes (Ernando, Zé Augusto e Toinho), sendo as duas primeiras (1996 e 2000) pelos bocas-pretas e as duas últimas (2004 e 2008) pelos taboquinhas. Sua participação nos dois grupos políticos o deixou querido pelos dois lados partidários…
Zé Elias emplacou em dois campos distintos: o comércio e a política! Tinha um jeito simples de se expressar: falava a língua do povo. Ficou conhecido como Zé da Fuba! Dizem que num comício enquanto discursava, ele disse: “Aqui nesse palanque tem um Zé da Fuba que não tem medo nem de cuscuzeira quente!” Teve que parar os estudos jovem porque sua visão era muito comprometida, mas isso não foi motivo para ele se acomodar e não o impediu de ser um grande comerciante. Não o impediu de ser um grande político, com um currículo que causou inveja até nos “doutores”…
Mas antes de tudo ele era amigo. Tinha o coração manso e nunca alimentava a vingança. O filho que era considerado o pai do próprio pai era também o pai dos irmãos e dos amigos. Sua filosofia de vida sem mágoas, sem vingança, sem maldade fez com que ganhasse a admiração de muita gente. Os bens materiais não destruíram sua simplicidade e o sucesso não arrancou sua humildade.
Outra vez, contam que um funcionário seu arrancou uma folha de cheques do talão e falsificou sua assinatura. Quando foi ao banco sacar o dinheiro, o gerente da agência desconfiou da assinatura e ligou para Zé Elias para confirmar. Zé Elias verificou que não tinha emitido o cheque e o gerente informou que ia chamar a polícia imediatamente, mas Zé Elias não permitiu. O gerente ficou pasmo, mas era assim a “natureza” de Zé Elias.
Em 2018, aos 70 anos de idade, enquanto estava internado em Recife, lutando contra o câncer, recebeu a visita da família. Seu quadro havia piorado e sua situação era irreversível. Sua esposa e seus filhos se dirigiram ao hospital tão doloridos, pois sabiam que aquela poderia ser a última vez que o veriam. Ele avistou a família chegar e o rosto da mulher e dos filhos se desfiguraram de tristeza.
Naquele momento tão difícil, ele manteve os olhos firmes, sem chorar, não queria entristecer as pessoas que o amavam. Uma das filhas balançou o rosto sinalizando um adeus, ele manteve o olhar intacto para não demonstrar fraqueza. Sua filha caçula encostou o rosto no vidro da porta para se despedir e as lágrimas dela escorregaram no vidro fazendo, sem querer, um desenho de um coração que somente ele conseguia visualizar na fraca luminosidade de um raio de sol que escapava pela janela. As lágrimas da sua menina mais nova desciam pelo vidro enquanto os olhos dele se despediam dos olhos dela… Então ele baixou a cabeça e, fechando profundamente os olhos, chorou…
Na noite sem luz de 05 de abril de 2018, Zé Elias fechou os olhos, sem mágoas, cheios de saudade…
Texto de Clécio Dias
Assista a homenagem completa abaixo: