A manhã de quinta-feira me surpreende com mais uma notícia ruim de digerir: Fernando Aragão entra para as nefastas estatísticas de vítimas da Covid-19. Mas Fernando é mais que um número, é um amigo que desaparece do nosso convívio, colhido por essa praga que está devastando o mundo.
Minha admiração por Fernando Aragão vem desde os tempos do Jornal Capibaribe, na metade da década de 1980. Nossa amizade data dessa época também. De uma lucidez ímpar, uma honestidade nunca contestada, uma ânsia de trabalhar pelo progresso de Santa Cruz do Capibaribe – na certa herdada do seu tio, Raimundo Aragão – Fernando sempre foi, antes de tudo, um cara sincero, em quem se podia confiar e na sua palavra.
Mas a política em geral, e a santacruzense especificamente, não acolhe com a devida atenção homens que tragam esse perfil. Fernando sabia muito bem disso – e isso me falou várias vezes em que conversamos. Mesmo assim ele insistia. Seu amor por Santa Cruz era mais forte que as incompreensões e jogadas políticas.
Seu grande sonho, sempre confessado, sempre assumido em todas as ocasiões que tinha oportunidade de se expressar, era ser prefeito de sua terra. Quando conseguiu candidatar-se, recentemente, uma série de fatores (os quais me furto a declinar aqui e agora) impediram sua eleição. Ele não se acomodou, porém; ao contrário, pareceu revigorar-se com a derrota, e bateu forte, preparou-se com mais cuidado, cercou-se de gente boa, que acreditava no seu sonho, e botou a campanha na rua, de forma sistemática, antes de todo mundo. Ele sentia que seria agora ou nunca.
Não conheço a fundo o cenário político de Santa Cruz, mas creio que o resultado de seu bem cuidado trabalho até poderia ser, finalmente, a realização de seu sonho. A campanha corria numa velocidade tal, que já se fazia anunciar como certa sua vitória, desta vez. Pelo menos eram os comentários que eu ouvia, aqui, em minha distância.
Mas a corrida foi interrompida com a maneira brusca com que a Natureza costuma agir. Indiferente à vontade e aos sonhos dos seres, sem tomar conhecimento dos planos e desejos de quem quer que seja, essa Natureza, que nos acolhe em vida, mas também decide o momento de parar, abstraiu Fernando Aragão de tão perto de seu sonho realizado. Não há razões ou explicações. Simplesmente é assim.
A nós, seus amigos, resta o lamento, a saudade e a certeza de que perdemos um homem forjado numa fôrma que parece ter sido destruída.
À família, na figura sempre presente de Ivone Aragão, meu pesar, minha força e meu carinho. Aos santacruzenses, que perderam a oportunidade de ter um administrador apaixonado por sua terra, meu sentimento de tristeza.
Oxalá Fernando Aragão, em sua longa caminhada pelas veredas do bem, tenha conseguido deixar sementes, que brotem cresçam, floresçam e deem frutos, em forma de amor, trabalho e dedicação a Santa Cruz do Capibaribe.
Obrigado, Fernando, pela sua existência!
Texto do professor Edson Tavares