Tramita na justiça, ação de autoria do sr. Emanuel Gaspar Araújo da Silva Xavier (23 anos), residente na Paraíba, que afirma ser filho legítimo e único herdeiro do Pe. Manoel Francisco Xavier, conhecido “Pe. Bianchi”, falecido em 12 de maio de 2021, vítima da Covid-19.
Entre outras missões, Pe. Bianchi foi pároco em Santa Cruz do Capibaribe, na Paróquia do Senhor Bom Jesus dos Aflitos e São Miguel, nos anos de 1980 e 1990. Ele chegou a disputar a eleição para prefeito em 1996, perdendo para Ernando Silvestre.
O Blog da Polo acesso ao documento na íntegra. A ação indenizatória por danos morais, tem como réus; José Ruy Gonçalves Lopes (“Dom José Ruy”), Bernardino Marchió (“Dom Dino”), os padres José Adjaclécio da Silva, Luiz Antônio da Silva Filho, Renan Sebastião da Silva, Eriko Cezar Ramos Gomes Pontes e a própria Diocese de Caruaru.
Emanuel Gaspar é fruto de um relacionamento do padre com Catarina Bezerra de Araújo, que atuou como secretária na Paróquia de Santa Cruz do Capibaribe. Além de postular em nome próprio, o autor pleiteia danos morais supostamente sofridos pelo falecido padre Bianchi e pede R$ 2 milhões em indenização.
Segundo o autor das denúncias, Pe. Bianchi teria sido perseguido e “viu-se ‘preso’ numa ardilosa teia, amaranhada por egoísmo e retaliações”. A perseguição, nas colocações do autor, acontecia por inveja do espaço conquistado pelo padre, em virtude do seu carisma onde chegava.
“A honra deste nobre Pe. Bianchi foi deveras vilipendiada por todos os Réus, sem exceção, que agiram de modo orquestrado para destroçar a alma deste finado sacerdote, e, por conseguinte, do seu descendente, ora Autor”, diz trecho do documento.
Para o autor, Bianchi era mal visto por seus pares ‘pela sua sinceridade’, supostamente não gostar da ‘vida luxuosa’ de alguns padres e teria sido perseguido com mudanças de paróquias, de maneira fora do comum no meio católico.
“A vida sacerdotal de Pe. Bianchi foi marcada pela perseguição, tentativas de desconstrução de sua imagem e desrespeito a direitos fundamentais de todo e qualquer cidadão”, diz em outro trecho.
Emanuel Gaspar afirma que ele e, principalmente, Pe. Bianchi sofreu grandes danos psicológicos, dignos de reparos. “O conflito emocional era tamanho, que vários foram os momentos em que Pe. Bianchi sofreu de quadros depressivos”, diz.
Segundo os relatos do autor da ação, Pe. Bianchi sofria calado, mesmo após ser chamado por seus colegas de “político vagabundo”, “velho estúpido”, “desonesto imundo, que sangra a Igreja”, entre outros supostos insultos.
Na petição, o filho faz extenso relato da suposta convivência dele com o padre Bianchi e realça pesadas acusações contra os réus, principalmente, contra o bispo e o ex-bispo da Diocese de Caruaru. Em um dos trechos, o filho sustenta que Pe. Bianchi teria lhe confidenciado sobre supostos “desvios significativos de verbas da Diocese”, durante a administração de Don Dino.
Ao falar sobre momentos delicados em que o Padre passou com Covid-19, doença que lhe custou a vida, Emanuel Gaspar, questiona a Diocese, por supostamente negligenciar cuidados ao Padre idoso.
“Caso Pe. Bianchi tivesse cumprido fielmente quarentena (como outros padres idosos da Diocese de Caruru, teria morrido justamente de Covid-19?” pergunta e indaga em outro momento “evidente que caso o bispo tivesse agido com a parcimônia adequada, cumprindo o dever de vigilância, em especial garantindo a saúde dos clérigos mais idosos, a presente demanda sequer existiria. Ora, por qual motivo alguns padres permanecem até os dias atuais salvaguardados, enquanto outros, no ápice da pandemia em 2021, foram expostos ao contágio?” e define, por fim, “Infelizmente, o coronavírus ceifou a vida de Pe. Bianchi. Assim, morreu Pe. Bianchi à serviço da Igreja”, diz.
O autor da ação, que é formado em direito, afirma que o caso só chegou a esse estágio, após várias tentativas de conversas com o bispo, garantindo situação financeira complicada após a morte de Bianchi, uma vez que, segundo ele, era o padre quem honrava com as despesas da família.
“Restou claro que o Autor somente procurou a Igreja, na pessoa do seu bispo diocesano Dom José, para expor uma situação fática, pedindo clemência diante o seu parco estado financeiro, afinal, toda a sua família era mantida pelo seu finado pai”, diz.
A ação tem como advogados Maristela Basso e Guilherme Dudus (ouvido pelo Blog da Polo), fundadores do Projeto ‘Cicatrizes da Fé’, fundado em 2018 que tem como objetivo, denunciar supostos abusos (sexual, psicológico, espiritual, etc.) cometidos por padres e/ou religioso(a)s vinculados à Igreja Católica Apostólica Romana.
A Diocese informou que não se pronuncia sobre temas do setor jurídico da Instituição.