Secretaria de Saúde encaminhou nota sobre o caso para o Blog da Polo
José Kayque Gabriel de Melo Silva tinha 6 anos e residia no bairro Cruz Alta em Santa Cruz do Capibaribe. Ele faleceu por volta das 8h20 da noite do último domingo (28), na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Oswaldo Cruz no Recife, após o agravamento de uma infecção e foi sepultado no Cemitério São Judas Tadeu em Santa Cruz, na última terça-feira (02).
Essa semana, familiares do garoto procuraram a redação do Blog da Polo, relatando a última semana de vida de Kayque, entre idas ao Ambulatório Médico Especializado (AME) Infantil da Capital da Moda, clínica particular, Hospital Municipal Raymundo Francelino Aragão, Hospital Mestre Vitalino em Caruaru e a unidade da capital pernambucana, onde o óbito foi constatado.
No entendimento de familiares do menino, não há dúvidas: faltou atenção e um atendimento que consideram ‘digno’ no AME, principalmente nos atendimentos iniciais.
“Houve negligência e desumanidade, entre os dias 22 e 25 no AME Infantil, diante de quatro atendimentos feitos. Gabriel só foi transferido em estado grave pela mesma unidade no dia 26, pois estava no local outro médico de plantão. Os dois primeiros não foram diligentes com a criança, resultando no seu óbito precoce”, entende uma tia da vítima, que prefere não se identificar.
Entenda o caso:
Familiares relataram à reportagem do Blog da Polo, que na segunda-feira (22 de fevereiro), por volta do meio dia, Kayque Gabriel foi levado para o AME Infantil, sentindo dores na perna. O incômodo havia tido início durante o fim de semana.
O avô da criança, o Sr. Antônio Agrício da Silva, conta que o médico do horário receitou dipirona e liberou o garoto.
O primeiro contato da família aconteceu na quarta-feira (03), um dia após o sepultamento. Desde então, a redação buscou detalhes do caso e aguardou resposta da secretaria.
Na terça-feira (23), com a continuidade das dores, novamente o menino foi levado à unidade, sendo encaminhado para exame de Raio-X da perna, procedimento realizado no hospital municipal Raymundo Francelino Aragão.
No mesmo dia, durante a tarde, a família conta que um outro médico no AME olhou o exame e disse não haver ‘nada’ e que seria algo ‘psicológico’.
Em tom de desabafo, a tia do menino, nos declara: “Não pediu nenhum outro exame, não orientou para tomar nenhum outro remédio e simplesmente olhou para cara da avó e disse que era psicológico. Ou seja, terceira vez que olhavam o caso”.
Com os sintomas persistindo, o avô da criança afirma o garoto foi levado para uma clínica particular, onde solicitaram vários exames, realizados na quinta e com resultados que saíram na sexta-feira (26).
Pouco antes disso, ainda na noite da quarta, conta que o menino precisou retornar à unidade pública sentindo fortes dores. ‘Tomou uma injeção e foi liberado’, diz o avô.
“Na sexta-feira meu neto acordou gritando de dor, os exames apontaram que ele estava com uma infecção e o médico disse que ele deveria ser internado urgentemente”, relembra o avô.
A tia acrescenta que as taxas mostradas estavam completamente desreguladas.
Depois disso, o quadro só piorou. O menino foi encaminhado para o Hospital Mestre Vitalino em Caruaru, na noite da sexta e passando todo o sábado (27) internado e, por fim, transferido e colocado em aparelhos de UTI no Hospital Oswaldo Cruz, onde faleceu.
Para os familiares de Kayque Gabriel houve erro no diagnóstico da infecção ‘considerado tardio’, sendo que os exames que detectaram o problema, foram solicitados apenas no meio particular.
“Estamos fazendo uma denúncia para que isso não aconteça mais. Não é só dar uma dose de dipirona e colocar para casa. Era pra trabalhar com mais dignidade, trabalhar melhor”, disse o avô a nossa reportagem, emocionado.
“Diante do péssimo atendimento e, como as dores continuavam, a família resolveu buscar um pediatra particular”, disse a tia, acrescentando que, na quarta-feira, a criança voltou ao AME e só aplicaram uma injeção e ‘mandaram pra casa’. “Na sexta, os primeiros resultados saíram e o quadro já era grave. Por sorte, era outro médico (no AME) que viu o quadro e solicitou internação”.
No sábado, já no Mestre Vitalino em Caruaru, relata a família, Kayque foi diagnosticado com uma infecção grave no corpo, inflamação que chegou a comprometer vários órgãos, inclusive pulmão.
“O médico particular fez o que eles não fizeram na segunda e terça-feira. Medidas de identificar o foco da doença e não jogar para Posto de Saúde”, disse a tia.
Na declaração de óbito, entregue a nossa reportagem, consta causa da morte “indeterminada”. Mesmo com a infecção que teria se espalhado no corpo do garoto, não houve realização de necrópsia, procedimento que permite determinar as circunstâncias da morte.
Relatório do AME
Um relatório encaminhado pela assessoria de impressa à nossa equipe, assinado pela diretora Laranny Rodrigues Costa, detalha o procedimento durante as entradas da criança no Ambulatório Médico Infantil, com as orientações apresentadas.
Confira:
O que diz a Secretaria Municipal de Saúde de Santa Cruz do Capibaribe?
Em contato com a pasta, o Blog da Polo indagou se tinham conhecimento do fato e solicitou explicações sobre o procedimento adotado, o que havia sido constatado pela equipe médica e quais os procedimentos repassados à família.
Em resposta, a Secretaria afirma que o ‘Corpo Médico prestou o atendimento necessário’ e que ‘solicitou exames’. Em nota, a secretária Paula Moraes, lamentou o ocorrido e se diz ‘manter à disposição da família para qualquer esclarecimento e apoio necessário, nesse momento tão delicado’.
Confira a nota encaminhada à redação do Blog da Polo, na íntegra:
Nota de esclarecimento
Ao tomar conhecimento do caso acontecido com a criança Kaique de Melo Silva, que veio a óbito na cidade do Recife, a secretaria de Saúde de Santa Cruz do Capibaribe buscou informações junto a diretoria da Ame Infantil e do Corpo Médico, que prestou o atendimento necessário da criança nos dias 22, 23 e 26, de fevereiro. O paciente foi atendido queixando-se de dores no joelho direito, foi medicado conforme análise médica, ficou em observação, foi solicitado exames médicos e posteriormente liberado. Não tendo melhoras, retornou a unidade com os exames e foi encaminhado para o Hospital Mestre Vitalino, na cidade de Caruaru, para uma investigação mais profunda do caso. A secretária de Saúde lamenta o ocorrido e se mantém à disposição da família para qualquer esclarecimento e apoio necessário, nesse momento tão delicado.
Paula Moraes (Secretária de Saúde de Santa Cruz do Capibaribe).